Uma constante nas comunidades quilombolas!

A comunidade remanescente de quilombo de São Francisco do Paraguaçu, no Recôncavo Baiano abriga cerca de 300 famílias, que como na maioria das comunidades quilombolas espalhadas pelo Brasil, incluindo as de Alcântara, no Estado do Maranhão, vive da pesca, agricultura de subsitência e artesanato, além de possuírem uma cultura imaterial herdada dos seus antepassados como a capoeira, o samba de roda, o maculelê, etc. Trata-se de uma comunidade que não vive só de suas heranças ‘culturais’, mas também de uma herança histórica de intolerânica e discriminação, aliada ao interesse econômico: as disputas territoriais – fazendeiros x quilombolas.
Infelizmente esse tipo de disputa e todas as consequências que dele resultam têm sido uma constante no país e mais uma vez se repete, fazendo outras duas vítimas: Altino Daruz e Maria das Dores Correa, quilombolas de São Francisco, que morreram em virtude do desgaste provocado pelo constante constrangimento e ameaças que sofriam dentro da própria comunidade e por parte dos fazendeiros vizinhos. (Dados: Fundação Palmares/www.palmares.gov.br)

Denúncias foram feitas, comissões formadas e já se busca resolver o caso, mas fica a pergunta: Se estamos em meio a um processo (demorado, mas efetivo) de democracia e inclusão social, sobretudo relacionado à questão negra, já que o país tem mais da metade da população formada por afro-descentes, de que forma o Governo brasileiro vem se manifestando em prol destas comunidades?

Ações públicas e privadas voltadas para esta questão e ‘comitês’ de apoio à sítios remanescentes de quilombos estão sendo ‘articuladas’, mas a impressão passada é de morosidade. Num meio onde muitos interesses encontram-se envolvidos, ainda que denúncias sejam feitas e ações propostas e até mesmo executadas, parece haver sempre uma ‘pseudo conciliação’, ou seja, os casos são postos em questão, movimenta-se sobre isto, mas no fim, as resoluções são secundárias ou simplesmente estagnam-se até que um novo processo/ação aconteça. Vão se estendendo por tempos infindos.

Não se trata de uma crítica destrutiva ao Governo ou às ações envoltas neste tipo de problema, mas apenas uma observação acerca de uma questão que vem se repetindo de geração em geração, sem se chegar a um consenso. É óbvio que muita coisa mudou, que muito se conquistou e a tendência é melhorar; que o trabalho de muitas entidades, órgãos e etc tem sido de fundamental importância para que muitas coisas estejam em andamento e/ou já tenha sido uma realidade – as titulações são um exemplo real do que tem sido desenvolvido. É também claro que para um país com uma herança histórica como a do Brasil, torna-se quase impossível mudar as coisas do dia para noite, e que este é um ‘trabalho de formiguinha’, requerendo paciência e perseverança. Mas nem por isso, pode-se deixar que este estado de passividade perdure, pois no ‘frigi dos ovos’ é o que tem acontecido.

Imaginar um idoso ou mesmo um trabalhador que construiu sua história sobre uma espaço, assim como sua descedência, deixando em cada porção de terra seu suor, seu sangue, sua vida, ser expulso porque um ‘senhor do engenho versão século XXI’ anseia por suas terras (detalhe: terra quilombola!) é no mínimo desolador! Implica em não estar vivendo numa democracia, mas regressando camufladamente a séculos atrás!

O Governo tem sua responsabilidade neste embate, as entidades têm seu papel, cada pessoa tem sua cota de participação não só com relação à questão negra, mas com as que envolvem desigualdades e inclusão social em geral, desde as ações mais simples às mais complexas.

Ainda coloco a educação como base, a começar pela primeira escola que é o lar e a desenvolver-se pelos caminhares futuros; e desejo que pensamentos como: “Se cada um fizer sua parte, chegaremos lá!” e/ou “Um dia seremos um país onde não haverá desigualdades e as diferenças serão respeitadas, pois fazem parte de muitas culturas num só espaço territorial” não sejam apenas figurativos, mas uma realidade!

(Texto: Milena Reis, comunicóloca, Agontinmê)

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