120 anos de libertação - Há mesmo o que comemorar?!

Houve uma época em que povos viviam em suas terras, com suas hierarquias, tradições... eis que num dado momento, em busca de riquezas, mão-de-obra barata e outros, uma terra sagrada é privada de seus direitos e dignidade, e seus reis são transformados em escravos!

Nós aprendemos na escola que os negros foram escravizados e trazidos para cá como força de trabalho, vendidos como "peças", que a igreja foi uma das responsáveis por mistificar a idéia de negro era inferior, não tinha alma, por isso não merecia nenhum tipo de consideração, etc, etc, etc.

Também é sabido todos os infortúnios sofridos pelos negros durante esses séculos de escravidão. Mas, ao se comemorar os 120 anos de abolição no Brasil, levantou-se uma questão no país que divergiu muitas opiniões: Há de fato motivos para se comemorar?!

"A assinatura da Lei Áurea foi decorrência de pressões internas e externas: o movimento abolicionista já tinha grande força no país, haviam freqüentes fugas de negros e mulatos, o exército já se recusava a fazer o papel de capitão-do-mato, ou seja: capturar e devolver os escravos a seus donos.
Além disso, estava se tornando economicamente inviável manter o trabalho escravo, em face da concorrência com a
mão-de-obra imigrante, barata, abundante e educada e os ataques constantes dos negros, muitos deles refugiados em quilombos, às propriedades agrícolas" (Joaquim Manuel de Macedo em seu livro: As Vítimas-Algozes)

Todos os anos, em 13 de maio, essa Lei é comemorada em todo o país como um feito corajoso da princesa Isabel, embora, ainda hoje, muitas pessoas discordem de tal ato. De fato, foi uma pseudo-libertação. Os escravos foram 'libertos', mas não se deu a eles nenhum tipo de auxílio para sobreviverem em meio a uma sociedade preconceituosa e fechada. Como poderia um escravo liberto sobreviver sem instrução, sem recursos, sem oportunidades? Ser negro ainda significava (e de repente, ainda significa, com um grau menos radical) ser inferior, ser 'menos'. Uma visão que continou a ser difundida de pai para filho até os dias atuais.

Não é exagero dizer que em pleno século XXI, os negros ainda são minoria nos cargos de chefia, nas universidades - e aí, vem a questão educacional (uma coisa puxa à outra) mais uma vez a circundar este assunto.

Se há motivos pra comemorar?! Sim. Muitos! Porque hoje, ainda que num processo demorado, a realidade está se modificando; as oportunidades estão se alargando; nós estamos buscando mais; conscientizando-nos de que podemos, de que somos e de que temos os mesmos direitos.

Ainda falta muito? Com certeza!

As perdas, humilhações e barbaridades cometidas vão ser revertidas? Dificilmente! Mas o reconhecimento de que somos e podemos tão ou mais que qualquer pessoa pode nos levar longe. Não adianta esperar só das autoridades, da justiça, do vizinho...cada um tem que fazer a sua parte. Já vai ser um bom começo!

(Texto de Milena Reis - Comunicóloga)

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